Globalmente, 60 a 70 % da produção alimentar provém da agricultura de sequeiro, e na África subsaariana mais de 95 % da produção alimentar vem da agricultura de sequeiro (Falkenmark and Rockström 2005). Os pequenos proprietários na bacia do rio Limpopo têm pouco acesso aos sistemas de irrigação. Assim, a precipitação de chuva é a fonte principal de água (Nyalungu 2005).
Os rendimentos agrícolas tradicionais são fortemente influenciados pelas condições ambientais na bacia. Os rendimentos médios tendem a ser baixos, reflectindo o sistema low-input/output. No entanto, a contribuição da agricultura de sequeiro para a segurança alimentar não deve ser subestimada e, nos anos de boas precipitações de chuva, a agricultura de subsistência pode contribuir substancialmente para as necessidades alimentares domésticas (FAO 2004).
Culturas e Rendimentos
No Botsuana, as culturas principais de subsistência sãosorgo, milho, milheto, feijão, hortaliças e oleaginosas. Embora os rendimentos sejam baixos, estas culturas são uma fonte alimentar e uma fonte de renda importante para muitas famílias na bacia (FAO 2004).
A maioria dos distritos em Moçambique tem um acesso muito limitado aos serviços agrícolas (irrigação, adubos, tractores, etc.) e por isso dependem da agricultura de sequeiro e de várzea. É uma prática comum entre as famílias cultivar uma parcela nas planícies férteis ao longo dos rios (baixas) onde plantam milho, feijãonhemba , amendoim e mandioca, e outra parcela nos planaltos (serras) onde plantam sorgo, milheto, legumes e outras colheitasresistentes à estiagem. Os rendimentos médios variam entre 0,40 toneladas/ha para o amendoim e 0,8 toneladas/ha para o milho.

Colheita das culturas de sequeiro na região do Chokwé em Moçambique.
Fonte: Qwist-Hoffmann 2010
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Na África do Sul, o milho é a colheita de subsistência mais importante, embora não seja ideal para o ambientepropenso à estiagem na bacia. A razão desta cultura ser um tanto arriscada reside no facto de a farinha de milho branca ser um elemento importante na dieta de muitos sul-africanos (FAO 2004).
No Zimbabué, a maior parte da bacia do rio Limpopo coincide com a Região Natural V, a região mais seca do país. Milho, sorgo, algodão, amendoim e girassol são as culturas mais plantadas na bacia média do Zimbabué. Como acontece na maior parte da bacia, os rendimentos das culturas de subsistência são muito baixos, e variam entre 0.40 toneladas/ha para o amendoim e abaixo de 1 tonelada/ha para o milho.
Potencial de Água Verde
Água verde é a humidade do solo usada na produção de culturas de sequeiro, enquanto que Água azul é a água superficial e subterrânea extraída dos rios, lagos e aquíferos para irrigação. Muitos dos grandes sistemas fluviais da região estão em vias de encerramento ou já estão fechados, o que significa que toda a água azul nesses sistemas já foi praticamente distribuída (Falkenmark e Rockström 2005).
Na maioria dos países da África Austral, a água verde fornece mais de 80 % da água anual utilizada no sector alimentar. A maior parte desta água é utilizada na produção de culturas de sequeiro. Nas zonas hiper-áridas, a água azul desempenha mais de um papel, suplementando a pouca disponibilidade da precipitação da chuva. A agricultura irrigada conta com dois terços da água azul retirada na África Austral. As necessidades futuras dependerão cada vez mais do uso mais eficiente da água verde, e da melhoria da agricultura de sequeiro.
Existem ineficiências na utilização de água verde, que, mediante uma melhor gestão, poderia ajudar a atender às necessidades futuras de água nas bacias hidrográficas de rios sub-saarianos (Falkenmark e Rockström 2005). “Importante: a grande maioria dos agricultores no hemisfério sul da África pratica uma agricultura de sequeiro, muitas vezes sub-óptima. Melhorar a agricultura de sequeiro através da mitigação dos efeitos negativos da irrigação e do uso de técnicas adaptadas, representa um enorme potencial para melhorar a produção alimentar futura na região (Scholes e Biggs 2004).”
Este facto é especialmente relevante para a bacia do rio Limpopo, onde a água azul captada para a irrigação excede muitas vezes a água azul disponível, em algumas zonas até 30 %(Nyalungu 2005).