Serviços de ecossistema são os benefícios que as pessoas obtêm da natureza (Scholes e Biggs 2004). Estes serviços foram classificados em quatro categorias pela Avaliação dos Ecossistemas do Milénio (2003):
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Serviços de Abastecimento – produtos oriundos dos ecossistemas como água doce, alimentos e lenha;
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Serviços de Regulação – benefícios de regulação obtidos a partir de processos do ecossistema, tais como regulação de doenças, polinização, protecção contra inundações e purificação da água;
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Serviços Culturais – benefícios não-materiais conseguidos a partir dos ecossistemas, tais como a estética, os benefícios educacionais e espirituais; e
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Serviços de Apoio – serviços necessários para a produção de todos os outros serviços do ecossistema, tais como formação do solo, produção primária e ciclo de nutrientes.
Estes serviços contribuem directa ou indirectamente para o bem-estar humano. No entanto, o uso excessivo dos recursos naturais e a poluição dos ecossistemas podem comprometer a saúde dos ecossistemas que fornecem a base para o bem-estar humano. Assim, é importante que as pessoas que vivem em ou nas proximidades dos ecossistemas da bacia hidrográfica do rio Limpopo não ultrapassem a capacidade dos ecossistemas de resistir às pressões. Isto poderia levar ao colapso da função do ecossistema, destruindo fontes de alimento, eliminando os valiosos serviços que o rio proporciona e reduzindo a capacidade da população local para manter um meio de vida.
A tabela abaixo mostra como os ecossistemas contribuem para o bem-estar humano, utilizando o exemplo de processos ecológicos apoiados pelo regime de caudais.
Ligações entre os Serviços de Ecossistema, Processos Ecológicos Apoiados pelo Regime de Caudais e Bem-estar Humano.
Serviços de ecossistema
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Bem-estar humano
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Componente de caudais ambientais
e processos ecológicos
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Abastecimento
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O regime de caudais apoia a prestação de diferentes serviços de abastecimento, tal como água potável, instalações, materiais de construção e alimentos.
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Material básico para uma boa qualidade de vida.
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Fornecimento de peixe: o ciclo de vida de muitas espécies de peixe depende da variabilidade natural dos caudais fluviais, p. ex., as grandes inundações são importantes para a migração dos peixes bem como para a desova e a reprodução.
Plantas medicinais, frutos: os níveis de seca possibilitam a recuperação de certas plantas de solos aluviais. As grandes inundações espalham frutos e sementes de plantas ribeirinhas.
Abastecimento de água: as grandes inundações recarregam os lençóis freáticos das planícies.
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Regulação
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O regime de caudais ecológicos ajuda a controlar a poluição, as pestilências e as inundações.
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Segurança, saúde.
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Controlo de inundações: a vegetação ribeirinha estabiliza as margens do rio. Caudais que mantêm os níveis de humidade do solo nas margens e depositam nas margens nutrientes e sementes, mantendo a vegetação ribeirinha.
Controlo da poluição: os caudais de alta turbulência restabelecem as condições normais da qualidade de água após períodos prolongados de caudais baixos, afastando resíduos de produtos e poluentes.
Controlo de pestilências: um rio com caudais ecológicos é mais resistente à invasão de espécies exóticas. Rios represados, desviados ou modificados que criam águas permanentemente paradas e regimes caudais mais constantes criam um ambiente favorável para espécies exóticas.
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Cultural
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Serviços culturais, recreativos e estéticos.
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Boas relações sociais.
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Caudais suficientes para maximizar valores estéticos e contribuir para os serviços culturais são uma componente importante do regime de caudais ecológicos.
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Apoio
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Biodiversidade, ciclo de nutrientes e sedimentos.
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Material básico para uma boa qualidade de vida, segurança, saúde, boas relações sociais.
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As grandes inundações podem manter o equilíbrio das espécies em comunidades aquáticas e ribeirinhas, bem como a diversidade de tipos de florestas em solos aluviais, através da inundação prolongada (espécies diferentes de plantas têm tolerâncias diferentes).
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Adaptado de: Forslund et al. 2009
Avaliação dos Ecossistemas do Milénio na África Austral (SAfMA)
A Avaliação dos Ecossistemas do Milénio na África Austral (SAfMA) foi realizada para avaliar o estado dos ecossistemas da África Austral, bem como as suas capacidades de prestar serviços em múltiplas escalas. Os relatórios regionais e integrados da SAfMA incluem avaliações pormenorizadas sobre os países ribeirinhos da bacia hidrográfica do rio Limpopo (1960-2000), com projecções para o futuro (2030).

A água é um serviço essencial de ecossistema.
Fonte: Schaefer 2010
( clique para ampliar )
A avaliação concluiu que existe uma forte interacção entre o bem-estar humano e o estado dos serviços de ecossistema da região (ver quadro abaixo). Os alimentos, a água e a energia da biomassa fornecidos pelo ecossistema estão directamente ligados ao bem-estar humano, e a saúde humana depende de uma nutrição adequada. A informação está disponível e documentada para o fornecimento de alimentos através dos ecossistemas agrícolas; no entanto, há menos documentação sobre o sector informal e o papel dos caçadores-colectores, sendo que a contribuição dos serviços de ecossistema para essas actividades parece ser subestimada (SAfMA 2004). Alimentos, carburantes, plantas medicinais e água são serviços essenciais para os pobres das zonas rurais na África Austral, mesmo se a sua utilização não seja documentada.
HIV/SIDA e os Serviços de Ecossistema
Nenhum estudo sobre o bem-estar humano na África Subsaariana pode ignorar o impacto generalizado da pandemia da SIDA. Os efeitos demográficos – por exemplo, a baixa expectativa de vida à nascença em toda a região – terá um notável impacto, provavelmente transitório, sobre a taxa de crescimento da população humana durante o próximo quarto de século. Perversamente, o impacto do homem sobre os ecossistemas poderá aumentar como resultado das tensões económicas causadas pela doença. Famílias sem outros recursos, e sobrecarregadas com o cuidado de membros familiares que antes eram economicamente activos e fornecedores de trabalho, recaem no uso (e às vezes na reutilização) dos recursos naturais para sobreviver. Ao mesmo tempo, os conhecimentos e as competências necessárias para a gestão dos recursos naturais, à escala local e regional, têm desaparecido por causa das mortes prematuras.
Interações importantes entre as questões dos serviços de ecossistema (tais como a má nutrição, água contaminada e doenças como a malária), a pobreza, o impacto e propagação da SIDA é uma razão pela qual a enfermidade teve grande impacto na região. Por exemplo, o abastecimento insuficiente de proteínas e micronutrientes resulta numa progressão mais rápida da infecção desde um estado debilitado e até à morte. Consequentemente, há menos dinheiro e trabalho para o cultivo de cereais de melhor qualidade, o que leva à uma maior desnutrição. Existem processos de reacções realimentadas pelos efeitos mútuos negativos no âmbito da água e do saneamento e para o controlo de doenças transmitidas por vectores.
Fonte: Avaliação dos Ecossistemas do Milénio na África Austral (SAfMA) 2004